24 de outubro de 2011

A Indústria do Voto Eletrônico e a ‘McDonaldização’ da Justiça.

Artigo de José Rodrigues Filho

Enquanto a indústria criminal floresceu nos últimos quinze anos do século passado, nos Estados Unidos, a indústria eleitoral no Brasil começou a crescer no início deste século, com a introdução do voto eletrônico. Porém, no momento em que a indústria criminal ou de encarceramento começava a cair nos Estados Unidos, a partir do ano 2000, a indústria do voto eletrônico começava seu estágio de crescimento, podendo o Brasil ser considerado como o berço da expansão da indústria eleitoral no mun do, apoiada por grandes corporações.

urnaniquedoenteslVale mencionar que a redução da privatização das prisões nos Estados Unidos seu deu, em parte, por conta das críticas de setores da sociedade civil, incluindo a participação de organizações religiosas, a exemplo da Igreja Prebisteriana, da Igreja Metodista e da Igreja Católica, através de vários bispos, que adotaram uma posição contrária à privatização de presídios, como forma abominável de se ter lucros, através da punição de prisioneiros. Os bispos da Igreja Católica pediram respeito à dignidade humana de cada e toda pessoa.

Assim sendo, na virada do século, enquanto o movimento anti-prisão privatizada, nos Estados Unidos, sinalizou que questões éticas e morais sobre prisões privadas terão uma voz estrondosa nas deliberações de futuras políticas, no Brasil a indústria do voto eletrônico surge a todo vapor, sem a sinalização de que questões éticas sejam consideradas. Tanto é assim, que nas próximas eleições, os eleitores brasileiros serão submetidos aos horrores da tecnologia biométrica, recentemente testada no Haiti. Vale lembrar que há muitos anos, Lombroso, na Itália, já utilizava a biometria para identificar criminosos por traços físicos.

Além disto, da mesma forma que nos Estados Unidos se fala da “McDonaldização” da Justiça Criminal, ou seja, a utilização de princípios burocráticos da indústria de refeições rápidas (fast-food) da cadeia de alimentação da McDonald’s, aplicados em setores do serviço público, aqui no Brasil estamos assistindo a “McDonaldizaão” no âmbito da Justiça Eleitoral, no tocante à utilização do voto eletrônico.

Assim sendo, em nome da eficiência, calculabilidade, previsibilidade, padronização e controle, a McJustiça ou “McDonaldização” da Justiça começa a ser evidenciada. No caso do Brasil, constata-se que os princípios básicos da democracia foram destruídos, ao retirar do eleitor a sua capacidade de controlar o seu voto, cuja contagem é hoje entregue a empresas privadas e terceirizadas, com o apoio da Justiça Eleitoral. Só através de uma McJustiça é que o eleitor perde o direito de controle de como se dá a contagem de votos, onde o que importa não é mais este princípio democrático, mas a rapidez de contagem de votos. A rapidez com que são divulgados os resultados de uma eleição, em poucas horas, parece deixar muitos eleitores satisfeitos, tanto quanto os brindes ou descontos de quem come um hambúrguer ou Big-Mac na cadeia da McDonald’s. Em resumo, até que ponto uma McJustiça compromete a Justiça?

Enquanto parece ser um tabu se falar em voto eletrônico no Brasil, a indústria do voto eletrônico se expande vertiginosamente, sofisticando cada vez mais a sua tecnologia, num mercado que envolve milhões de dólares. A Alemanha proibiu o voto eletrônico por ser inconstitucional. A Holanda também interrompeu o uso desta tecnologia, ao provar a sua falta de segurança. As democracias tradicionais não utilizam esta tecnologia pelas razões acima citadas. Por que no Brasil houve esta expansão do voto eletrônico? Quais os interesses em se manter um mercado de características monopolistas tão promissor, que incentiva a privatização e a terceirização? (http://jrodriguesfilho.blogspot.com/2011/06/terceirizacao-da-democracia-e.html ).

Recentemente, alguns criminalistas têm identificado e levantado questões sobre a forte ligação entre o setor privado e a justiça criminal, sobretudo nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos. Uma sociedade que valoriza uma Justiça relativamente autônoma em relação aos empreendimentos econômicos e lucrativos, precisa dar atenção a maneira como a tecnologização nas áreas da justiça (criminal, eleitoral, civil etc) se relaciona com a colonização monetária da própria Justiça, como se tem evidenciado na literatura.

Não se pode negligenciar a convergência da justiça com o dinheiro, negócios, comércio e outros interesses empresariais. Quando os interesses econômicos se intrometem em matérias de lei, justiça e punição, o que pode surgir é o negócio da lei e da ordem, direcionado por comerciantes ou mercenários, cujos interesses se estabelecem na lei do mercado livre, através de lucros e outros desvios ilegais. O Brasil é carente não só de uma reforma política, mas de uma profunda reforma eleitoral, que deve começar com a administração das próprias eleições. Por fim, este assunto será tratado no nosso próximo texto.

José Rodrigues Filho é Professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard.

fonte: http://www.ecodebate.com.br/2011/10/21/a-industria-do-voto-eletronico-e-a-mcdonaldizacao-da-justica-artigo-de-jose-rodrigues-filho/

1 comentários:

janciron on 2 de fevereiro de 2013 às 21:26 disse...

É uma mentira descarada, dizer que um preso daqueles que estão embolados em pequenos cubículos custa 2.800 mensais, ao governo, ou seja, ao povo que paga imposto, mas tem quem diz que gasta 4.500!
Só se o preso for tratado à pan de ló, com caviar, uísque e champanhe importado!
A verdade é que os políticos brasileiros superfaturam desde a construção do presídio até a estadia dos presos!
Se o preso custa 2.800 mensais, melhor é colocá-lo em uma faculdade em período integral, pois vai custar menos! E vai dizer que o presídio é mais instrutivo que uma faculdade em período integral?
Paguem 2.8000aos professores e policiais seus canalhas!
Se o preso custa 2.800 mensais, quanto deve ganhar um pai de família que trabalha o mês todo de sol a sol, e ganha o salário mirrado de seiscentos e poucos reais? Não esqueçam canalhas, que é com este salário irrisório, que muitos pais de família precisam se manter e sustentar sua a família? Isso quando conseguem emprego!
E o aposentado que trabalhou por mais de trinta anos contribuindo com cinco ou seis salários, tiver 15 anos de aposentadoria, só ganha, em média dois salários! Pois os descarados estão roubando os velhinhos para fazer doações aos seus amiguinhos, como se fossem donos dos cofres públicos!
Quem vcs acham que estão de olho nesta fatia do mercado opressor, ou seja, nesta bolada que vai render as cadeias?

Notem que as cadeias estão superlotadas, mas só de pobre, sem poder aquisitivo, sem eira nem beira, uns por tentar furtar maisena, creme dental, xampu, maisena!
Enquanto isso, quem desvia, superfatura e rouba bilhões, se passam por gênios por
serem parentes de político!!

Não é mesmo Lulinha?
Não estou citando partido, mas fato!
Parece-me que onde tem dinheiro envolvido, todos os políticos e os três poderes são coniventes, pensando somente em obter vantagens pessoais!
Tentam se por patriotas, fazendo quem paga seus salários de idiotas! O que menos conta é os benefícios para a sociedade que eles dizem representar!
E que por sinal; para isso, ganham o melhor salário do planeta! Mas não satisfeitos, ainda desviam, superfaturam até merenda escolar e dão lixo para as crianças!

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